>>6796913Esquecido numa sala branca
Densamente iluminada,
A realidade parece-me disforme.
Ouço o riso de espectros
Que ao meu redor degeneram-se
Em desejos puramente ilusórios.
Tento tampar meus ouvidos.
A música penetra-me intensamente.
Insuficiente.
Pressiono as mãos contra a cabeça,
Nada adianta.
Estas conversas tolas e superficiais
De algum modo invadem-me
A consciência jamais calma.
Durmo para esquecer
A estranha sensação de querer morrer.
Não... não durmo.
A consciência, perturbada, não esquece.
O silêncio torna-se raro,
Encontra-me apenas na intimidade.
Saio à rua.
Observo as passantes
Desfazendo-se entre a névoa fria.
Sinto o cheiro abafado da cidade,
Que parece nunca parar.
A fragrância de um incenso qualquer
Mistura-se com a fumaça dos tubos de escape,
E vivencio a náusea característica
De um alcoólatra ao fim da noite.
Quero voltar para casa, penso.
Minha cabeça dói.